Rupi Kaur me incomodou...
Outros jeitos de usar a boca, chegou para mim descrito por homens como literatwitter, que trazia a obviedade das coisas, os clichês de outras, nada que ninguém nunca tenha pensado antes. Mas, o que seria literatwitter? Uma maneira de menosprezo literário? Afinal, o que tais pessoas entendem por literatura? Para além do conceito científico da literatura penso: quem escreveu, quem é o público e qual a função da obra? A função desse livro e principalmente quem se lê nessas linhas.
O que chamaram de obviedade eu chamo de realidade arrasadora, o livro escrito por uma mulher que tem como público principal mulheres, decorre sobre abuso sexual, relacionamento abusivo e amor.
Antes de qualquer coisa Rupi Kaur inicia: "meu coração me acordou chorando ontem à noite o que eu posso fazer supliquei meu coração disse escreva o livro".
Quando falo que Kaur me incomodou é porque ela incomodou coisas silenciadas dentro de mim, os poemas transitam entre leveza e sentimentos de força, até a punhalada e sentimento de desespero. "Sessões nos dias da semana", mostra o desespero de meninas que sofrem abuso sexual, entre tios e pais, eu não nomearia literatwitter algo que diz:
"É o seu sangue
nas minhas veias
me diz como eu
poderia esquecer" (p.22)
Na página 23, descreve a consulta ao terapeuta após um abuso, o próximo relata o abandono paterno, e o próximo sobre o silenciamento. Poucas linhas, alguns apenas algumas palavras, cortantes, que faz uma mulher vítima de abuso engolir os nós na garganta e pensar "é assim, foi assim, ainda dói".
Rupi Kaur vai andar pelo doloroso caminho dos relacionamentos abusivos, de relações que nos tornam inseguras , fracas, amedrontadas, dos nossos sacrifícios pessoais, da convivência a dois que muitas vezes nos dilacera e vivemos pois interiorizamos que precisamos do amor daquele outro, não importa o preço que precisamos pagar.
"Como vou escrever
se ele levou minhas mãos
com ele" (p.129)
O livro se divide:
A dor
O amor
A ruptura
A cura
Cada parte traz algumas reflexões que em maior ou menor grau perpetra na vida feminina, desde os abusos sexuais, depois os amores, os abusos psicológicos, físicos, a dependência afetiva, os fins que acabaram conosco, e por fim a cura!
A cura nos faz em alguns momentos pensar sobre como passamos e superamos, também nos traz algo que em alguns momentos pensamos "vou conseguir também", na leitura dos poemas entendo que o que me indicaram como obviedades é algo triste, é entender que é comum para eles e banal o que está escrito ali.
Rupi Kaur me incomodou por me fazer entender que todos sabem o que passamos, todos conhecem, todos aceitam, é uma obviedade e escrever isso seria apenas uma "literatwitter".
Rupi na página 196, com apenas duas linhas diz:
"a deusa entre suas pernas
faz as bocas salivarem".
Hoje me aproprio deste para encerrar, a deusa entre as minhas pernas não aceitava que era uma deusa, a deusa dentro de mim não aceitava que era deusa, a deusa intelectual em mim não aceitava sua existência. As bocas salivando me enojavam e me enojam. Pensei durante muito tempo que nada além daquilo importava, por trás dessa pele preta, carente, que carregava o peso da solidão social seria a única maneira de se ter algo, seria só por isso. O trabalhar da auto estima foi algo doloroso e é, Rupi Kaur me colocou de frente as minhas inseguranças e me mostrando a minha evolução pessoal e como hoje, de fato, eu conheço Outros jeitos de usar a boca.
Bruna Santiago.
Outros jeitos de usar a boca, chegou para mim descrito por homens como literatwitter, que trazia a obviedade das coisas, os clichês de outras, nada que ninguém nunca tenha pensado antes. Mas, o que seria literatwitter? Uma maneira de menosprezo literário? Afinal, o que tais pessoas entendem por literatura? Para além do conceito científico da literatura penso: quem escreveu, quem é o público e qual a função da obra? A função desse livro e principalmente quem se lê nessas linhas.
O que chamaram de obviedade eu chamo de realidade arrasadora, o livro escrito por uma mulher que tem como público principal mulheres, decorre sobre abuso sexual, relacionamento abusivo e amor.
Antes de qualquer coisa Rupi Kaur inicia: "meu coração me acordou chorando ontem à noite o que eu posso fazer supliquei meu coração disse escreva o livro".
Quando falo que Kaur me incomodou é porque ela incomodou coisas silenciadas dentro de mim, os poemas transitam entre leveza e sentimentos de força, até a punhalada e sentimento de desespero. "Sessões nos dias da semana", mostra o desespero de meninas que sofrem abuso sexual, entre tios e pais, eu não nomearia literatwitter algo que diz:
"É o seu sangue
nas minhas veias
me diz como eu
poderia esquecer" (p.22)
Na página 23, descreve a consulta ao terapeuta após um abuso, o próximo relata o abandono paterno, e o próximo sobre o silenciamento. Poucas linhas, alguns apenas algumas palavras, cortantes, que faz uma mulher vítima de abuso engolir os nós na garganta e pensar "é assim, foi assim, ainda dói".
Rupi Kaur vai andar pelo doloroso caminho dos relacionamentos abusivos, de relações que nos tornam inseguras , fracas, amedrontadas, dos nossos sacrifícios pessoais, da convivência a dois que muitas vezes nos dilacera e vivemos pois interiorizamos que precisamos do amor daquele outro, não importa o preço que precisamos pagar.
"Como vou escrever
se ele levou minhas mãos
com ele" (p.129)
O livro se divide:
A dor
O amor
A ruptura
A cura
Cada parte traz algumas reflexões que em maior ou menor grau perpetra na vida feminina, desde os abusos sexuais, depois os amores, os abusos psicológicos, físicos, a dependência afetiva, os fins que acabaram conosco, e por fim a cura!
A cura nos faz em alguns momentos pensar sobre como passamos e superamos, também nos traz algo que em alguns momentos pensamos "vou conseguir também", na leitura dos poemas entendo que o que me indicaram como obviedades é algo triste, é entender que é comum para eles e banal o que está escrito ali.
Rupi Kaur me incomodou por me fazer entender que todos sabem o que passamos, todos conhecem, todos aceitam, é uma obviedade e escrever isso seria apenas uma "literatwitter".
Rupi na página 196, com apenas duas linhas diz:
"a deusa entre suas pernas
faz as bocas salivarem".
Hoje me aproprio deste para encerrar, a deusa entre as minhas pernas não aceitava que era uma deusa, a deusa dentro de mim não aceitava que era deusa, a deusa intelectual em mim não aceitava sua existência. As bocas salivando me enojavam e me enojam. Pensei durante muito tempo que nada além daquilo importava, por trás dessa pele preta, carente, que carregava o peso da solidão social seria a única maneira de se ter algo, seria só por isso. O trabalhar da auto estima foi algo doloroso e é, Rupi Kaur me colocou de frente as minhas inseguranças e me mostrando a minha evolução pessoal e como hoje, de fato, eu conheço Outros jeitos de usar a boca.
Bruna Santiago.
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