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Cotas raciais: a desonestidade do uso do colorismo

Então... Faz tempo que tô por aqui batendo na tecla de como pessoas com passibilidade brank's serão as responsáveis pelo fim das cotas. Estamos no país que foi calcado no mito do paraíso da três raças e com um projeto político de branqueamento, dentro desse mito que se tornou a base dos estudos sociais, antropológicos e históricos do Brasil. Esse mesmo país extermina negros (literalmente) todos os dias, ainda hoje vemos poucos professores negros, bancários, proprietários e mesmo assim, esse país que segrega e mata se utiliza desse mito para não proporcionar o mínimo de direitos que possa gerar equidade. Sabemos que a cota racial é quase nada no que conhecemos como racismo estrutural, mas, as cotas garante uma pequena porcentagem de negros na universidade, nos concurso públicos. Temos que parar urgentemente de pegar termos dos EUA e enfiar no Brasil, aqui o racismo é de cor, é de estereótipos e é por isso que estamos em 2019 e vemos negros inocentes presos e mortos. Nos últimos anos uma onda de "tornar-se negrx" invadiu, a ideia estrangeira de colorismo cai no Brasil como uma releitura barata de casa grande e senzala modernizada. Pessoas que reinvindicam a negritude pelo avô, pai, ou pelo cabelo crespo, mas, que não sofreram racismo e entendam que preconceito e bullying são outra coisa. Nessa onda as cotas correm perigo pelo mesmo mito que se solidificou no projeto que vemos na "redenção de Cam" e em "Freyre", o mito da impossibilidade de saber quem é negro no Brasil volta e com força total. O presidente atual já apontou o fim das cotas raciais, o mínimo que se espera de pessoas brank's, e que se orgulham de ser negras é que se tenha bom senso na hora de se afirmar como tal, resgate sua negritude do fundo, mas, não em um processo seletivo, as mais de mil interrupções de pessoas claras nas cotas do Sisu em 2019 coloca a legitimidade delas em risco, e já que vocês possuem tanto orgulho de ser negro, não tentem excluir algo que de fato vocês não precisam. Enxerguem para além dos traços negroides que vocês herdaram dos bisavós e saiam da frente de quem é alvo de tiro e exclusão, na hora da luta por direito é preto que batalha, já que vocês reinvindicam tanto ancestralidade nessas horas, leiam e estudem o movimento negro e lutas do país. Nós não somos todos iguais e policial, empregador, segurança sabe bem quem é preto e eles não perguntam a cor do pai ou da mãe.

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